De vez
em quando eu gosto de fazer trilhas e caminhadas extensas no meio da natureza.
Geralmente vou para algum lugar perto de Belo Horizonte, onde moro, viagens que
gastam apenas um dia ou, no máximo, um final de semana. Gosto de ouvir o
silêncio, de sentir o ar puro, de exercitar o corpo e obrigar meu organismo a
vencer a preguiça e ir além dos limites diários. Algumas dessas trilhas possuem
cachoeiras e, quando o dia está bem quente, é bom dar um mergulho nas águas
geladas. Faz com que nos sintamos revigorados.
Algumas
trilhas são curtinhas, leves e pouco íngremes, apropriadas para iniciantes,
como uma de 6 km que fiz no Parque do Caraça quando ainda estava na faculdade.
Algumas são de nível intermediário, por exemplo, a de 14 km que fiz na Serra do
Cipó em um terreno pouco acidentado. E algumas são de nível hard, a exemplo da aventura até o Pico
da Bandeira, no Parque Nacional do Caparaó, na qual percorri 15 km de uma
trilha super íngreme até atingir a altitude de 2.892 metros de altitude (é o
terceiro pico mais alto do Brasil).
Em
minha aventura ao Pico da Bandeira, fui com um grupo de trilhas. Penso que ir
de turma e com um guia é a maneira mais segura, principalmente para mim que sou
um pouco sedentária e não tenho experiência em me virar em situações extremas.
Isso evita que fiquemos perdidos e, em caso de algum acidente, seja bem mais
fácil o socorro. O guia leva um walkie talkie,
cobertores de emergência, alimentos e água, e está acostumado a andar depressa
caso seja necessário pedir ajuda.
Saímos
de Belo Horizonte numa sexta-feira à noite, viajamos de van por cerca de 8
horas, chegando à cidade de Alto Caparaó bem de manhãzinha. Depois de tomarmos
café em uma das pousadas da cidade (cujo turismo é praticamente todo voltado
para visitantes do Parque Nacional do Caparaó), subimos de jipe até passarmos
pela entrada do Parque e chegarmos ao Centro de Visitantes. Como estava cedo,
fizemos uma breve caminhada a uma queda d’água, onde ficamos um pouco sentados
para bater papo, lanchar e curtir a água gelada. Depois, armamos acampamento em
uma área de camping e tentamos dormir
um pouco para economizar energia. A temperatura estava muito baixa e tivemos de
levar roupas apropriadas para nos manter aquecidos. O calçado também deve ser
adequado, de preferência uma bota ou tênis de cano alto específico para trekking, e que não seja novo (quando é
novo o calçado é duro e costuma machucar, é preciso usá-lo algumas vezes para
amaciá-lo).
A
trilha até o Pico da Bandeira começou mesmo à meia noite de sábado para
domingo. Bem agasalhados e com o auxílio de lanternas, começamos a subir em um
ritmo moderado, pois o grupo era bem diversificado entre pessoas acostumadas a
caminhar e outras iniciantes como eu. No meu caso, eu já estava frequentando a
academia e fazendo aulas de spinning
há algum tempo, portanto meu preparo físico estava bom. Não aconselho esta
trilha para quem está sedentário há muito tempo. Diversas pessoas acabam
desistindo no meio do caminho e voltando.
Após
cerca de 3 horas caminhando, fizemos uma pausa em uma área imensa chamada
Terreirão. Lá estava lotado de gente e barracas, e fazia um frio de lascar. Meu
grupo ficou junto, sentou e descansou um pouco e reabasteceu as energias com
água e chocolate. Sim, o chocolate é ótimo nessas situações. Foi uma pausa
breve e logo já estávamos seguindo para o segundo trecho, mais íngreme e mais
longo.
Devo
confessar a vocês que pensei que eu não iria dar conta. Fui uma das últimas a
chegar do meu grupo. Senti frio, náuseas, fadiga e ansiedade para chegar logo
ao destino. O guia me acompanhou o tempo todo, respeitando meus limites e me
incentivando a prosseguir.
Após
várias pausas, finalmente consegui chegar. Eram cerca de cinco horas da manhã.
Vimos o nascer do Sol, pintando o céu de infinitos tons de laranja e um tapete
de nuvens que se estendia para nós até a linha do horizonte. Acho que nunca vi
algo tão bonito. O frio era intenso e, quando paramos de caminhar e o corpo
esfriou, a sensação foi congelante. Eu me enrolei no cobertor para consegui
suportar. Tirei muitas fotos e enfim, esgotada, me deitei em uma pedra e fiquei
imóvel e encolhida por cerca de meia hora. Vi que alguém me cobriu com o
cobertor de emergência (parece um papel alumínio), mas nem sei que foi. Fiquei
ali, quietinha, de olhos fechados e ouvidos aguçados.
Só
depois que me recuperei e o dia já tinha amanhecido, é que comecei a fazer o
caminho inverso. Há um ditado que diz que “pra descer todo santo ajuda”. Ledo
engano! A descida é tão difícil quanto a subida, exigindo muita cautela para não
escorregarmos ou tropeçarmos, e o impacto no tornozelo e nos joelhos é
violento. Graças a Deus deu tudo certo e finalmente cheguei ao nosso
acampamento após quase 10 horas de caminhada (ida e volta).
Foi
uma das aventuras mais legais da minha vida. A sensação de dever cumprido é
incrível. Ficamos nos sentindo felizes, pensando “eu consegui!”. É difícil
descrever a alegria de quando superamos a nós mesmos, vencemos os medos e
dificuldades, e conseguimos ter êxito. Ainda por cima, pensar que são poucas as
pessoas que irão ver ao vivo aquela vista maravilhosa do Pico, me faz sentir
especial de alguma forma, como se fosse um item a menos na lista de coisas
impossíveis que quero fazer. É sensacional!
Acredito
que essa alegria e sentimento de vitória não vêm apenas quando fazemos uma
proeza como essa que relatei aqui no texto. Provavelmente, em nossa vida de
casada e na maternidade, passamos por muitas situações difíceis, que talvez
exijam de nós um esforço tão grande quanto subir o terceiro pico mais alto do
Brasil. Mas, quando conseguimos alcançar o topo, quando superamos nossos medos
e limites, a sensação de felicidade é gratificante. Normalmente, essa sensação
é muito íntima, difícil de compartilhar com amigos e familiares. Se eu disser o
quanto fiquei feliz de conseguir subir o Pico da Bandeira, as pessoas até
acharão legal, mas não conseguirão compreender o motivo exato da minha
felicidade. Assim como uma mãe, quando fica sozinha com seu bebê pela primeira
vez e, em meio às lágrimas, consegue dar banho, trocar a fralda, vesti-lo,
amamentá-lo e colocá-lo para dormir. Ainda não tenho filhos, mas acredito que
essa sensação deve ser tão boa quanto a que senti subindo o pico. Sensação do
tipo: Eu consegui! Cheguei ao topo do mundo!
Não tema
seus próprios medos. Acredite que você pode! E comemore sempre que conseguir
uma vitória, por menores e mais singelas que sejam.
Para
quem se interessou pelas trilhas, seguem os dados do grupo que participo:
Ecopix
Trekking e Hiking
Texto escrito pela Ana Faria
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